Ordem sem progresso
Ensaio. Acordar às sete horas da manhã tendo dormido às três. Nem compensa. Aquela coisa toda desafinada. Uma parafernalha musical! Dentro da minha cabeça uma idéia e uma vontade que transcende de escrever um poema. Tenho os títulos à mão: mobília, concretização do ato, les heures d'un poème...mas o conteúdo está como pastel vazio: a massa exuberante por fora e dentro nada além de sopro. Não há dentro de mim expressão menos besta que um lugar comum...pra cuspir arte primitiva é melhor parar. Respira. Seu talento tá aí. Nas versificações e músicas, nos poemas não escritos...enquanto houver um poema a ser escrito, uma música a ser feita...ainda existe. Mas o que fazer com essa coisa que, num baque ilícito, está dançando em mim? Eu leio esse texto: tá tudo uma merda. Se eu tivesse com o papel eu jogava fora, mas eu quero escrever! Qualquer lixo, qualquer droga, porque existe algo ainda que se manifesta...e não sei dizer o que é; e dá uma puta dor nas costas, uma tensão cadavérica no pescoço e uma vontade de comer que mata...respira. É só arte que chega. Afinal, sempre evoluímos prum lugar melhor. Espera...nunca acreditei mesmo que ordem levasse ao progresso. A essência das coisas está exatamente na desorganização delas...
2 Comments:
Ordem é conservação! Muito bom o texto, aliás, gosto das coisas que vc escreve. Abraço!
concretização do ato, les heures d'un poème...mas o conteúdo está como pastel vazio: a massa exuberante por fora e dentro nada além de sopro.
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se fosse no papel, certamente sublinhá-lo-ia.
muito bonita passagem
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